King Kong já teve várias versões no grande ecrã, umas melhores do que as outras. Sendo esta a primeira após a versão bastante bem-recebida versão de Peter Jackson, havia alguma expetativa para saber como é que esta nova reencarnação ia sair. A verdade é que o resultado final é algo diferente do que esperava.
Desde logo, “Kong” altera o conceito, sendo que nunca vemos o primata a raptar uma jovem e depois a bater no peito no topo do Empire State Builidng enquanto derruba aviões que o tentam derrubar. Até porque nesta versão, isso seria impossível: o Kong aqui apresentado deve ser maior do que o edifício.
A história de Kong passa-se imediatamente após o fim da guerra do Vietname, com uma excursão de soldados que inclui um mercenário (Tom Hiddleston) e um fotógrafa (Brie Larson) são enviados para explorar uma misteriosa ilha. Como é de esperar, essa ilha é o domínio de Kong, um primata monstruoso, que cedo revela ser um adversário bem poderoso.
Assim, a maior surpresa de Kong é que este é um filme que se tenta aproximar dos filmes sobre o Vietname, utilizando os tons destes, o que resulta num filme que até consegue ser algo diferente e curioso. As referências a “Apocalypse now” são várias (às vezes até excessivas), e a banda sonora repleta de rock e metal ajudam a criar um clima que é sempre cativante.
Por outro lado, ao contrário de “Godzilla”, que faz parte do universo cinematográfico de “Kong: ilha da caveira”, este filme nunca receia mostrar o monstro, que aparece bem cedo e quase nunca desaparece. O primata é visualmente espetacular, e dá, com a sua grande dimensão, uma escala enorme ao filme. Para além disso, é a melhor personagem do filme.
Pois é, as personagens de “Kong” são terríveis. São extremamente cliché, sendo que a maior parte delas só estão ali para serem devoradas por Kong. E o pior é mesmo constatar que Tom Hiddleston e Brie Larson não têm rigorosomanente nada para fazer: os seus protagonistas são tão maus que até doem. Hiddleston interpreta um típico rebeldezito, que é mercenário só porque sim. E Larson… tira fotografias. Devia ser crime ter dois atores como estes (principalemente Larson, que é extremamente talentosa) e não os utilizar para nada. Os dois atores ainda conseguem fazer alguma coisa com o pouco que lhes é dado, mas é-lhes dado tão pouco que é complicado. É uma pena, pois o ponto alto de “Godzilla” tinha sido o seu drama humano.
Os únicos dois atores a quem o filme dá personagens com alguma substância são Samuel L. Jackson e John. C. Reilly. Jackson interpreta um comandante viciado na guerra, que decide que Kong é o seu inimigo mortal e que por isso vai fazer de tudo para o destruir. É um vilão atípico, e consegue ser relativamente cativante. Já John C. Reilly é sem dúvida o ponto alto do filme, ao dar corpo a um antigo combatente da Segunda Guerra Mundial que se despenhou na ilha e que é encontrado por esta expedição. Reilly tem uma presença fortíssima, e é de facto das melhores coisas que o filme tem a oferecer.
Mas não são só as personagens que são más. O próprio argumento está cheio de diálogos que são tão “cheesy” que se tornam arrepiantes. O filme nunca se quer levar a sério, mas devia pelo menos tentar ter uns diálogo que não fossem tão esquisitos. O filme nunca consegue encontrar o equilíbrio entre ser tonto e ser sério, e isso prejudica-o fortemente.
Mas quem vai ver um filme destes fá-lo pelos efeitos visuais, e esses não desapontam. As cenas de ação são épicas e com uma grande escala, e utilizam cores vivas que conseguem encher realmente o olho. Se estas fossem acompanhadas por um argumento à altura (e se tivesse personagens dignas de serem chamadas de personagens), então o produto final até podia ser curioso. Também a análise que o filme faz ao Vietname é interessante, e às vezes até surpreendentemente profunda.
Por isso, “Kong: ilha da caveira” tem visuais impressionantes, que nunca entanto não conseguem desculpar umas personagens péssimas. É um filme interessante, mas que podia (e devia) ser bem melhor.
Nota final: 6/10
Deixe uma Resposta