Eduard Snowden é indiscutivelmente uma das figuras mais polémicas do século XXI. Considerado um herói por uns ou um traidor por outros, a verdade é que toda a gente parece ter uma opinião sobre o ex-agente da NSA que revelou ao mundo que os serviços secretos americanos têm acesso a mais informação do que aquela que se pensava, através da utilização das tecnologias que estão sempre presentes no nosso dia-a-dia. Por isso, quando foi anunciado que Oliver Stone ia realizar uma adaptação da vida de Snowden, ficou imediatamente no ar a ideia de que estaríamos perante um filme extremamente político. O mais surpreendente é que Stone contém esta veia política ao máximo.
Assim, “Snowden” visa dar a conhecer a vida da figura titular, desde que ingressou no exército americano até ao período após a publicação da polémica entrevista que correu mundo. Assim, é-nos dada a conhecer a relação de Snowden com a sua namorada, Lindsay Mills (Shailene Woodley), que muitas das vezes permite acrescentar um lado humano importante à história.
No passado, o magistral “Citizenfour” já nos tinha dado uma perspectiva única (e imparcial) sobre Snowden, retratando um homem comum assolado por dúvidas e com a sensação de que está a fazer aquilo que é correto. Stone sabe por isso evitar o conteúdo abordado pelo documentário, mas aproveita bem aquilo que a obra da jornalista Laura Potrias (que é aqui interpretada por Melissa Leo) fazia de maneira excepcional: a criação de um sentimento de paranóia. De certo foram poucos os que viram “Citizenfour” e não se sentiram tentados a tapar as suas webcams e a terem mais cuidado com o que dizem num telemóvel. Ora, “Snowden” também consegue transmitir este desconforto, embora com um efeito menor, através de várias cenas que nos levam a questionar se a nossa privacidade não pode estar demasiado em causa.
Mas nem tudo funciona bem neste “Snowden”. Em primeiro lugar, o argumento é muitas vezes demasiado disperso, procurando abordar demasiados aspectos da vida de Edward Snowden e esquecendo-se de se focar em partes fundamentais. Acrescenta-se também alguns diálogos, que vão para além do absurdo e, digamos, chegam a ser embaraçosos.Por outro lado, a realização de Stone é por vezes frustrante, apostando em planos “esquisitos” e descontextualizados, que prejudicam a generalidade da obra.
Mas Stone consegue fazer algo bem: humanizar Snowden. Se o documentário de Potrias já nos dava a conhecer um homem perturbado e complexo, aqui é-nos apresentada uma pessoa que chega a parecer quase comum, tendo as suas relações pessoais e valores morais que condicionam as suas decisões.
Quanto a interpretações, Joseph Gordon-Levitt tem aqui uma interpretação forte, dando vida a Snowden de uma forma bastante fiel. Não é a sua melhor prestação de sempre (na minha humilde opinião, essa seria a de “The Walk- o desafio”, apesar daquele sotaque), mas é bastante sólida. Também Woodley está bem enquanto o seu interesse amoroso, sendo que consegue dar uma certa personalidade ao seu pequeno papel. De facto, algumas das melhores cenas do filme ocorrem quando este casal está junto.
Voltando ao início, é de espantar que “Snowden” seja um filme praticamente imparcial. Até ao último ato, em que Stone finalmente afirma a sua opinião quanto a Snowden, o filme funciona quase como um olhar subjetivo sobre os eventos que ocorreram no período de tempo compreendido pelo filme.
“Snowden” é assim um filme surpreendentemente eficaz, que consegue criar uma certa tensão em relação aos factos narrados. Infelizmente, tem algumas falhas graves que não lhe permitem ser considerado um filme imperdível, e para quem viu “Citizenfour” torna-se pouco relevante, mas não deixa de ser uma obra que tem algum valor, tanto informativo como de entretenimento.
Nota final: 6/10
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